quinta-feira, 5 de abril de 2012

A poucos dias da estreia, Rui Madeira fala sobre “Falar Verdade a Mentir”, a 110.ª produção da CTB



terça-feira, 3 de abril de 2012

Fotografias de ensaio

 
 

© Paulo Nogueira

num ritmo de comédia….

Com Falar Verdade a Mentir voltamos a Almeida Garrett, na tentativa de “revelar”, aos espectadores, a partir da nossa prática, as ideias que subjazem na estrutura dramática da peça e que, a nosso ver, se mantêm com uma surpreendente actualidade. A luta do Autor romântico, pela revolução nas Letras, no Teatro Português e, porque não dizê-lo, na Política nacional, pode ser lida através desta comédia de costumes, que nos mostra ainda hoje um “retrato fiel” da nossa idiossincrasia e do nosso viver colectivo.
Com Garrett estamos na verdadeira modernidade, sem perder tempo com o culto do passado, que encontramos noutros autores.
Com Falar Verdade a Mentir podemos observar, num ritmo de comédia e com humor corrosivo, como a natureza do discurso se cruza entre o passado, a falsa moral, a aparência e o novo olhar dos tempos e das desilusões do Presente, consoante os personagens em jogo.
Com Garrett e Falar Verdade a Mentir são razões estéticas e ideológicas que enformam o discurso teatral. O cerne da revolução romântica, quer quanto à observação do social e do político, quer quanto à natureza do discurso poético ou literário.
Com Garrett estamos na promoção do “sujeito” em instância estruturante de si mesmo e do mundo em que evolui. E essa dinâmica está explícita nos discursos dos vários personagens.
Falar Verdade a Mentir: um divertimento teatral num espaço/tempo de debate e experimentação.
Rui Madeira

Autor: Almeida Garrett | Encenação e Dramaturgia: Rui Madeira | Elenco: André Laires, Carlos Feio, Jaime Monsanto, Rogério Boane, Solange Sá e Thamara Thais | Cenografia: Carlos Sampaio, Rui Madeira | Figurinos: Sílvia Alves | Criação vídeo: Frederico Bustorff Madeira | Criação Sonora: Luís Lopes | Design gráfico: Carlos Sampaio | Fotografia: Paulo Nogueira


Bilhetes: 10€ | 5€ (estudantes, reformados e protocolos) | 4€ (grupos - mínimo 10 pessoas)
M/12
“Este é um século democrático; tudo o que se fizer há-de ser pelo povo e com o povo… ou não se faz (…) Os poetas fizeram-se cidadãos, tomaram parte na coisa pública como sua. (…) Os sonetos e os madrigais eram para as assembleias perfumadas dessas damas que pagavam versos a sorrisos. (…) Os leitores e os espectadores de hoje querem pasto mais forte, menos condimentado e mais substancial; é o povo, quer verdade. Dai-lhe a verdade do passado no romance e no drama histórico, – no drama e na novela de actualidade oferecei-lhe o espelho em que se mire a si e ao seu tempo, a sociedade que lhe está por cima, abaixo, ao seu nível – e o povo há-de aplaudir porque entende: é preciso entender para apreciar e gostar”.

Almeida Garrett
in “Memória ao Conservatório”, sobre Frei Luís de Sousa
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett (Porto, 1799 — Lisboa, 1854), escritor, dramaturgo, jornalista, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português, foi o grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português. Garrett é um exemplo de aliança inseparável entre o homem político e o escritor, o cidadão e o poeta, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.
Nascido no seio de uma família burguesa, parte com os pais em 1809, por altura da invasão francesa, para a ilha Terceira. Nos Açores recebe de um tio, Frei Alexandre da Conceição, Bispo de Angra, ele próprio escritor, uma sólida formação moral, cívica, religiosa e escolar.
Aos 17 anos regressa de novo ao continente para estudar Direito em Coimbra, tendo nesta cidade aderido às ideias liberais e começado a escrever algumas peças de teatro.
Em 1823, com a reacção miguelista da Vila-Francada, é obrigado a exilar-se em Inglaterra, onde inicia o estudo do Romantismo (inglês), e depois em França, onde se torna correspondente de uma filial da casa Lafitte. Dois anos mais tarde publica em Paris Camões, obra marcante para o Romantismo português.
No regresso a Portugal dirige os jornais O Português e O Cronista, mas conhece de novo o exílio de 1828 a 1832, voltando a Portugal com os bravos do Mindelo.
Após a guerra civil, é nomeado Encarregado de Negócios e Cônsul-Geral na Bélgica e aí estuda a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe).
Passos Manuel, na chefia do Governo após a Revolução de Setembro de 1838, encarrega-o da restauração do teatro português, missão que leva a cabo criando, não só o Conservatório de Arte Dramática, mas igualmente a Inspecção-Geral dos Teatros e sobretudo o Teatro Nacional.
Almeida Garrett é provavelmente o escritor português mais completo de todo o século XIX. Publicou várias peças de teatro: Um Auto de Gil Vicente (1838), O Alfageme de Santarém (1841), Frei Luís de Sousa (1843), Falar Verdade a Mentir (1845), entre outras; romances: Arco de Santana (1845) e Viagens na Minha Terra (1846), assim como livros de poesia: Flores sem Fruto (1845) e Folhas Caídas (1853).
“Vivamos livres ou morramos homens”
A. Garrett in tragédia Lucrécia

Ao longo dos anos, a CTB tem vindo a inscrever nas suas escolhas espectáculos dirigidos aos jovens públicos, usando textos clássicos ou contemporâneos que integram os curricula de Português e Literatura. Autores como Gil Vicente, Eça de Queirós, Almada Negreiros, Manoel Teixeira-Gomes, Sophia de Mello Breyner, Manuel António Pina, Bernardim Ribeiro, Sá de Miranda e Camilo Castelo Branco foram objecto de abordagem no âmbito dos projectos de formação de públicos. Este espectáculo é mais um momento na vontade de possibilitar aos futuros públicos a aproximação a um autor fundamental da nossa cultura.
Através de uma série de acções concentradas (no âmbito do BragaCult), vamos criar condições para que esses jovens públicos e professores se possam apropriar dos processos de criação, ganhando um “olhar por dentro” da coisa artística, aprendendo a “ler” e a interrogar esses textos à luz de uma nova realidade – a prática teatral.
O objectivo é criar melhores públicos, novos espectadores que dominem melhor os códigos de leitura dramática, capazes de se estimularem para lá do que lhes é apresentado, entendendo que toda a obra de arte é/ deve ser aberta. E que a sua posição de espectador activo é que lhe há-de conferir o seu verdadeiro significado.

Com Falar Verdade a Mentir pegamos num texto de um autor maior, na tentativa de «mostrar» aos espectadores as ideias que subjazem na estrutura dramática da peça. A luta do autor pela revolução romântica nas letras e no texto português. A verdadeira modernidade, sem se fixar no culto do passado que encontramos noutros autores. Com Almeida Garrett e com Falar Verdade a Mentir podemos observar com humor corrosivo onde o discurso é passadista, sem vida e onde se cruza com o novo olhar dos tempos e das desilusões do Presente. Com Almeida Garrett e Falar Verdade a Mentir são razões estéticas e ideológicas que enformam o discurso teatral, é o cerne da revolução romântica. A promoção do «sujeito» em instância estruturante de si mesmo e do mundo em que evolui. E essa dinâmica está explícita nos discursos dos vários personagens. Um divertimento teatral num espaço de debate e experimentação.
Rui Madeira